“Ele bateu com a foice em cima da mesa e disse aos funcionários da fazenda: essa terra, a partir de agora, é da reforma agrária. Se querem participar da luta, podem ficar. Vamos cadastrar vocês. Se não, vão embora, pois essa terra agora é nossa. É dos trabalhadores sem terra”. Há 10 anos, às cinco da manhã do dia 02/maio, quando o sol despontava no horizonte, iluminando a escuridão da noite, um grupo de militantes do MST que havia acampado durante duas semanas em Belém, protestando contra o massacre de Eldorado dos Carajás, ocupava a fazenda da TABA, no distrito de Mosqueiro, ilha que faz parte do território da capital paraense.
Para comemorar a data, o acampamento “Mártires de Abril” organizou um evento, realizado nestes 02 e 03 de maio, e convidou os amigos do MST. Militantes do PSOL estiveram presentes na abertura, que contou com uma mesa formada por quatro pessoas que participaram do processo da ocupação e resistência, entre elas Fabiano Bringel, hoje professor da rede estadual, que na época integrava o NUARA – Núcleo Universitário de Apoio à Reforma Agrária – que fez o relato do início do texto.
Ulisses Manaças, membro da coordenação nacional do MST, relembrou aqueles dias que passaram acampados na Praça da Leitura, em 1999, rebatizada pelo movimento como Praça dos Mártires de Abril. “A ocupação da praça era algo diferente. Uma rádio comunitária funcionou durante os dezesseis dias. Quando a Polícia Federal chegou, a população nos ajudou a manter a rádio funcionando e anunciando a proposta da reforma agrária e da liberdade. Construímos uma escola na praça: a Escola Itinerante Paulo Freire. Saímos da praça e viemos ocupar a fazenda. Eu vinha na frente, carregando a bandeira do MST, morrendo de medo de levar um tiro. Foram três despejos. A polícia vinha com tratores e destruíam nossos barracos. Mas nós voltávamos e ocupávamos de novo. O determinante para que conquistássemos a terra foi a solidariedade de amigos e amigas como vocês”.
Dona Ana, uma acampada que participou desde o início da ocupação, fez um relato emocionante e arrematou: “Enquanto tiver vida e resistência, estarei lutando por essa bandeira”, encerrando sua fala com um apertado abraço em Ulisses, que precisou enxugar o rosto para impedir que as lágrimas escorressem.
Raimundo, violeiro dos bons, finalizou a primeira parte da programação entoando composições do movimento e convidando para a inauguração do “Bosque Ecológico Mártires de Abril”. Seguimos em fileira até o local, onde foram plantadas mudas de andiroba, ipê, bacuri, paricá, uxi e castanha-do-pará, entre outras árvores.
Que venham mais dez anos. Que venham mais ocupações. Os 19 mártires de 17/abril/1996 germinaram, depois de sepultados. E suas sementes vermelhas seguirão sendo espalhadas até que não reste mais um único latifúndio no país. Reforma agrária, na lei ou na marra! Pátria Livre! Venceremos!
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