terça-feira, 29 de abril de 2014

Munduruku do Tapajós convocam Governo Federal para discutir território indígena

Ao governo brasileiro e à sociedade brasileira

Nossos caciques, pajés, lideranças, guerreiros, mulheres e crianças do povo Munduruku, reunidos na terceira assembléia do Movimento Munduruku Ipereng Ayu, declaramos para o poder judiciário e a sociedade brasileira que temos total disposição para dialogar um processo democrático de consulta prévia, livre, informada e de boa fé, conforme a convenção 169 da OIT.
Para continuar esse diálogo, que não é negociação dos nossos direitos, convidamos o ministro Gilberto Carvalho, Ministro das Minas e Energia, Presidente da Eletrobrás, Funai, Ministério Público Federal e observadores da sociedade civil, para um encontro na aldeia Sai Cinza, município de Jacareacanga, PA, a ser realizado no dia 1 de maio de 2014.
Queremos que o governo prove sua boa fé, publicando o Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Sawre Muybu do Médio Tapajós, e o cancelamento de todas as licenças de pesquisa e lavra no subsolo da Terra Indígena Munduruku emitidas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral para grandes empresas mineradoras.

Assembléia Munduruku, aldeia Missão Cururu, 25 de abril de 2014

Respeitosamente,
Josias Manhuary Munduruku – Líder dos guerreiros
Maria Leusa Cosme Kaba Munduruku – Representante das mulheres
Vicente Saul Munduruku – Cacique aldeia Sai Cinza
Arlindo Kaba Munduruku – Cacique aldeia Missão


Ler mais em: Comitê Metropolitano Xingu Vivo


quinta-feira, 24 de abril de 2014

Não vai ter a Copa que eles queriam

Não vai ter a Copa que eles queriam

Semanas atrás, discutia sobre a consigna “#naovaitercopa” nas redes sociais. Como forma de criticar minha opinião me foi apresentado um link com um artigo cujo título era: “Bye bye coxinhas! O povo apoia a Copa do Mundo!”. Acessei o sítio onde se localiza o determinado escrito e pude observar que seu autor explodia em emoção ao comentar os números de uma pesquisa do IBOPE, divulgada em fins de fevereiro/2014.
Dizia que “a maioria do povo brasileiro quer a Copa”, que “o apoio à Copa cresce na proporção que declina a renda das famílias” e a população “por consequência, se posiciona contra os protestos” que tem levado às ruas palavras-de-ordem contrárias à realização da Copa no país. E para embasar sua opinião apresentava dois quadros retirados da tal pesquisa, realizada em um universo de 2002 cidadãos brasileiros.
O primeiro quadro mostra que 58% do total de entrevistados é a favor da Copa; 38% são contra e 4% foram inscritos em “não sabe/não respondeu”.
É feito um comparativo com a renda familiar. Entre aqueles que ganham mais de 5 salários mínimos, o apoio à Copa é de 51%, subindo para 58% entre aqueles que ganham de 2 a 5 salários mínimos e para 61% entre os entrevistados que ganham de 1 a 2 salários mínimos. E o apoio à Copa do Mundo no Brasil tem seu pico naqueles que ganham menos de um salário mínimo por mês, chegando a 68%.
Observa-se, então, que os números confirmam aquilo que os governistas vem falando: “a maioria do povo quer a Copa e esse apoio cresce entre os mais pobres”. E assim, respaldados pelas pesquisas de opinião, os governistas pulam de felicidade.
É certo que os números não mentem, jamais! Mas, cá entre nós, eles podem ser manipulados. E como são... como “nunca antes na história desse país”. Entretanto, que outras conclusões podemos tirar desses números?
Em primeiro lugar, os números totais: 58% da população apoia a Copa. Isso significa dizer que quase 40% dos brasileiros NÃO quer a Copa no Brasil!!!! Esse é um número alto demais. Não podemos esquecer que o Brasil é o “País do Futebol”; que diariamente boa parte da população discute sobre seus times e a rivalidades com as outras torcidas; que desde 1950 o Brasil não sedia uma Copa do Mundo; que há todo um bombardeio de informações pela mídia, sobre futebol; que os torcedores (e o povo) brasileiros há muito desejavam que uma nova Copa fosse realizada no país; que o governo federal vem fazendo uma forte propaganda sobre os benefícios da Copa; que foram destinados bilhões para obras relativas à realização da Copa. E ainda assim, 38% dos entrevistados disseram NÃO à Copa!!! Esses são números para o Governo Dilma comemorar? Não creio.
Mas, vamos em frente: entre os mais pobres o apoio à Copa aumenta para 68%. Repito, então, os mesmos argumentos do parágrafo anterior: com toda essa histórica reivindicação da Copa no Brasil e com todo o bombardeio dos meios se comunicação, a pesquisa identificou que 28%, dentre os mais pobres, NÃO quer a Copa!!!! É quase 1/3 da população com mais baixa renda, que é a parte mais vulnerável à política do “Pão e Circo”. E mesmo entre essa faixa da população os números contrários são bastante representativos.
Foi ainda estabelecida uma relação entre quem é a favor ou contra a Copa e qual sua avaliação sobre o Governo Federal. Cerca de 40% avaliam o governo como “ótimo/bom”, 36% “regular” e 24% “ruim/péssimo”.  E mesmo dentre aqueles que apoiam o governo (ótimo/bom), um em cada cinco, NÃO quer a Copa!!! Definitivamente, não são números para os governistas comemorarem.
E ainda faz-se necessário mencionar o quão tendenciosa foi a pergunta que resultou nos dados acima. Vejam: “P.06) Ainda falando sobre a Copa do Mundo, o(a) sr(a) diria que é a favor ou contra a realização da Copa do Mundo no Brasil?”. Ora, o fato de alguém criticar os gastos da Copa e a falta de investimento em áreas como Saúde e Educação, não significa dizer que essa pessoa seria contra a Copa no país. Ela poderia ser a favor, mas desde que houvesse uma série de benefícios à população, trazidos junto com a realização do evento esportivo.  Ou seja, o que esperaríamos de um típico cidadão do País do Futebol? Que ele respondesse algo como: “tenho críticas e acho que o governo tem que investir em outras áreas, também, mas sou a favor da Copa no Brasil”. Não é verdade?
Mas a pergunta do IBOPE apresenta o pacote pronto: contra ou a favor da Copa? E mesmo assim, 40% responderam: sou CONTRA!
No segundo quadro, retirado da pesquisa de opinião, pede-se que o entrevistado dê uma nota de 01 a 10, para se aferir o nível de apoio às manifestações contra a Copa no Brasil. A nota média foi 4,5. Se levarmos em conta somente a frieza dos números, chegaremos à conclusão de que as manifestações foram reprovadas pela população. E toma-lhe comemoração dos governistas. Mas sugiro uma análise mais detalhada dos números, que não mentem jamais, conforme o dito popular.
De acordo com o enunciado da questão, dar a nota 1 (um) significa que o entrevistado “não apoia de jeito nenhum” as manifestações. E foram 27% que deram essa nota. Disparado, o maior percentual, se consideramos as notas individualmente. Apenas 7% deram nota 10 (dez) o que significa que “apoia totalmente” as manifestações. E toma-lhe comemoração dos governistas: “viram? O povo é contra as manifestações”, diriam.
Mas há outros ângulos pelos quais podem ser vistos os números. Ora, excetuando-se os 2% classificados como “não sabe/não respondeu”, sobra um total de 71% que manifesta algum nível de apoio aos protestos contra a Copa, respondendo com notas que variam de 2 (dois) a 10 (dez).
E se levarmos em consideração aqueles que deram notas entre 7 a 10, revelando um alto nível de apoio às manifestações de rua, teremos 26% do total de entrevistados, número semelhante aos que não apoiam.
Mais uma vez a manipulação dos números pode ser colocada em prática pelos governistas: aqueles que não apoiam as manifestações são todos colocados em um único grupo (nota 1,0), representando 27% da população; e aqueles que manifestam algum nível de apoio são divididos em nove grupos (notas 2,0 a 10), cujo máximo atinge 16% (nota 5,0).
A análise desses números é interessante para entramos em um dos debates que percorre a esquerda brasileira na atualidade: é um erro levantar a consigna “não vai ter copa”?
Alguns setores da esquerda dizem que essa palavra de ordem é sectária e não dialoga com setores de massa da classe trabalhadora. Segundo a pesquisa acima, 39% dos entrevistados com renda familiar entre 2 a 5 salários mínimos, são CONTRA a realização da Copa no Brasil. E nessa mesma faixa salarial 25% manifestaram alto nível de apoio aos protestos de rua, dando notas de 7,0 a 10.
E se formos em direção à “classe média”, onde estão boa parte dos trabalhadores organizados em sindicatos e partidos de esquerda, observaremos números maiores: 46% dos entrevistados com renda familiar acima de 5 salários mínimos (R$ 3.620,00), são CONTRA a Copa no Brasil. E 35% dão notas de 7,0 a 10 às manifestações contra a Copa, demonstrando alto nível de apoio aos protestos de rua.
Se considerarmos os números totais (38%) daqueles que responderam ser CONTRA a Copa no Brasil, como um reflexo da opinião do conjunto da população brasileira, teremos nada menos que 72 milhões de pessoas para dialogar (ou cerca de 52 milhões de eleitores). Não é um número nada desprezível. Ainda mais se o compararmos com os números dos eleitores de alguns candidatos do PSOL e PSTU à presidência da República em 2006 (Heloísa Helena, 6,5 milhões de votos) e 2010 (Zé Maria, 84.600 votos).

A palavra-de-ordem “não vai ter copa” não dialoga com um expressivo setor de massas da classe trabalhadora??? Bem, como diz o ditado popular, “os números não mentem”, jamais...