terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

25 anos sem José Afonso

Diário Liberdade - [Alfredo Matos] Coincidindo com os 25 anos da morte de José Afonso, reproduzimos um texto de homenagem remetido por um seu camarada e amigo pessoal.

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DEPOIMENTO
Tributo ao meu amigo de sempre – Zeca Afonso

Foi um momento particularmente emocionante quando o Zeca, perante insistência continuada, a que não resistiu, interpretou, naquele local, naquela Vila, naquele ano, àquela hora e para aquela imensa multidão, aquele libelo acusatório temível e sempre actual - "os Vampiros". Que noite inesquecível!

Conhecemo-nos no início de 1967. Com frequência nos visitámos. Eu, na sua primeira casa, em Setúbal, o Zeca, na minha casa, no Barreiro e, aqui, conviveram, connosco, algumas vezes, dois grandes amigos comuns – o Carlos Paredes e o Adriano Correia de Oliveira. Momentos de conversa livre e amiga.

Desenvolvemos uma amizade sólida, na base de imensas cumplicidades, à volta dos nossos ideais, principalmente. Esta relação levou a que o Zeca tenha aderido e participado, com grande entusiasmo, naquele memorável espectáculo, um autêntico concerto, talvez a maior e mais vibrante sessão de poesia e canto que encheu como um ovo o ginásio do Luso do Barreiro, no dia 11 de Novembro de 1967, um sábado, da iniciativa do Cineclube do Barreiro – cuja direcção, liderada por Álvaro Monteiro, viria, por esse motivo, a ser presa pela PIDE – e da Comissão Cultural do Luso. Este foi mais um dos momentos em que tomámos nas nossas mãos a procura da liberdade que o poder fascista nos negava.

Adriano Correia de Oliveira não cantou porque, como explicou, estava na tropa. Odete Santos declamou poetas como António Gedeão e Manuel da Fonseca. Teresa Paula Brito interpretou Para Não Dizer Que Não Falei De Flores e espirituais negros. O virtuosismo de Carlos Paredes e Fernando Alvim em temas como Verdes Anos. Por fim, Zeca Afonso acompanhado à viola por Rui Pato. A apresentação, improvisada mas conseguida, esteve a cargo do barreirense Manuel Teixeira Gomes. Serviu de apoio à partitura com os textos do Zeca, o muito jovem, e meu filho, Vítor de Matos.

Uma multidão, impensável, naqueles tempos e naquelas condições, repetia com insistência:

"Vam-pi-ros",
"Vam-pi-ros",
"Vam-pi-ros",
"Vam-pi-ros".

O Zeca não queria, resistiu até ao limite, mas era impossível não ceder ao pedido incessante da multidão. Todas as emoções transbordaram quando, aquela Voz rompeu, como um grito, o momento de silêncio:

"No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vêm em bandos
Com pés de veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada".

Ler mais em: http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=24772:25-anos-sem-jose-afonso-tributo-ao-meu-amigo-de-sempre-zeca-afonso&catid=255:cultura-e-desportos&Itemid=131

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