Poesias

As poesias a seguir são de minha autoria. Estão publicadas no livro "Subversivas Palavras". (http://www.editorapakatatu.com.br/detalhe.asp?prod=30)

Loucura

Viva a loucura!
Que viva a doce, alegre, carinhosa, adorável loucura.
E junto a ela, que vivam os loucos.
Os loucos sem Pátria.
Sem ódio.
Sem posses.
Sem teto nem chão.
Sem calor nem frio.
Sem comida nem bebida.
Sem vida.
Sem morte.
Que vivam os loucos.
Puros de coração.
Puros de pensamento.
Mas totalmente impuros de razão.




Drummond

Drummond.
E agora, Drummond?
O sonho acabou.
O rio secou.
A rosa murchou.
O fogo apagou.
E agora?
E agora, Drummond?
Você que é a vida.
Você que é a morte.
Você que é o leite
que derrama do pote.
Você de Itabira.
Você da Fazenda.
Você da Infância.
De Minas Gerais.
E agora, Drummond?
No meio do caminho
a pedra ainda está.
Na tua mão de menino
o presente ainda está.
No galope do cavalo
teu pai ainda está.
No teu coração
o amor ainda está.
Drummond.
E agora?
Você já foi, Drummond.
Drummond, para onde?




Futuro

O futuro.
Onde está?
Vou pra cima do muro procurar meu futuro.

O Muro caiu.
Foi derrubado.
O muro do passado.
Da ditadura sanguinária.
Do assassino traidor escondido sob o vermelho.

Ando por cima do muro.
Procurando no horizonte a infância perdida.

O muro da fome.
Que perdeu meu sorriso.
O muro da exploração.
Que perdeu meu tempo de brincar.

Vou seguir caminhando.
Em busca do futuro.
Vislumbrando o infinito.
Pisando sobre o muro que ajudarei a derrubar.




Poemas do Mundo

Todos os poemas do mundo
não serão suficientes pra falar o meu amor.
Frias palavras aquecidas em nossas bocas.
Nos pontilhados caminhos de teu corpo.
Que percorro embebido de paixão.
Pele de algodão, cor de Algodoal.

Toda a loucura do mundo
não será suficiente pra gritar o meu amor.
Nem a loucura dos poetas,
nem a dos apaixonados amantes.

Todas as cores do mundo.
Todas as formas, cheiros, sabores.
Não!
Não serão suficientes.




Poemas de amor

De onde vêm os poemas de amor?
Mil respostas não serão bastante.
Talvez porque não venham de lugar algum.
Ou quem sabe,
façam de todos os recantos sua gênese.

De onde virão os poemas de amor?
Letras espalhadas em pedaços de papel.
Frases rabiscadas no verso de folhetins operários.
Panfletos exultando a queda do regime.

Poesia, amor, revolução.
Sintagma cor de buriti.
Vermelho sabor do prazer.
Subversivas palavras.
Que recusam o monopólio dos lábios.
E teimam em fugir pelos olhos.
Ou quem sabe,
pela pontas dos dedos.




Sol vermelho

Tremulam bandeiras vermelhas
Sonhos vermelhos
Vidas.
LIBERDADE, GRITAI !
Esperança.
O novo sol nascente,
Rubro.
Comunista.
Por que insistes em nascer, agitador?
Vermelho sol poente.
Subversivos raios que penetram na terra negra
e teimam em germinar a semente.
Enxadas que rasgam o chão
Foices que cortam o farpado
Bosta de boi no campo
banhado pelo sangue encarnado.
Sem-terra.
Sangue subversivo derramado.
Eldorado.
Futuro.
Dignidade.
REFORMA AGRÁRIA, GRITAI !




Estátuas de Lênin

Derrubem as estátuas de Lênin.
Movimentem as estátuas de Lênin.
Revolucionem as estátuas de Lênin.
Elas estavam estáticas demais.




Sobre colibris

Os colibris jamais cortejam
as falsas flores de plástico
que repousam inertes e empoeiradas
sobre a mesa da sala de estar.

Não são de pano
as rosas pelas quais
se apaixonam os beija-flores.

Não são de plástico
as flores seduzidas pelos colibris.
Vida é o que procuram.




Meu sangue

Quando nasci,
tive o sangue tingido de vermelho.
E por mais que eu olhe através do espelho,
não me lembro de nenhum anjo safado,
desses que povoam o imaginário fecundo de Francisco,
vindo avisar que eu estava predestinado
a ter o sangue assim.
Minhas hemácias foram pintadas de vermelho.
Não sei o motivo.
Apenas sei que jamais irei para Pasárgada.
Lá, como aqui,
sou inimigo do rei.




Mapa-Múndi

Aqui estou eu,
sentado à beira de uma cratera lunar,
admirando os contornos da Terra.

Por mais esforço que faça,
meus olhos não conseguem enxergar as linhas
desenhadas nos Atlas de geografia.

Como são bucólicos os mapas-múndi.
Suas fronteiras perfeitas.
Seus países coloridos.
Seus oceanos azuis.

Onde está o País Basco?
A Caxemira? A Palestina?
As Malvinas são argentinas,
mas estão grafadas entre parênteses.

Imagine, John Lennon, um mundo sem fronteiras.
É fácil, dirias, basta lutar.




O Poeta


Não quero fazer poemas
para os "pançudos burgueses que correm na praça".
Nem para os etílicos intelectuais
que debruçam suas mentes nas mesas de bares e cafés.

Quero fazer poemas para a ação.
Poemas panfletários.
Desses que são distribuídos na porta das fábricas.
Desses que são criticados pelos eruditos.

Versos que embalam bandeiras.
Ventos que tempestaneiam a monotonia.

Quero ouvir minha poesia saindo das bocas
dos operários, das camponesas,
das prostitutas, dos meninos de rua.

Quero meus versos declamados por artistas vermelhos.
Mensageiros do Povo.

Aí sim, me sentirei poeta.



O silêncio das palavras de amor
(para Andréa Solimões)

Jamais permanecem em silêncio
as palavras de amor.
Podem parecer mudas
quando desenhadas em folhas de cadernos.
Podem parecer mortas
quando pintadas de branco
no negro asfalto das vias urbanas.
Podem parecer incompreensíveis
quando codificadas em olhares distantes.
Aparências, tão somente.
Pois ao menor sinal de tua presença,
quando encontram guarda em teus lábios,
põem-se a falar os cadernos, as ruas, os olhos.
Jamais permanecem imóveis
as palavras de amor.